Esse não é um texto de superação

Já começa a leitura dando play nesse som. se quiser ver a tradução, lê aqui pra chorar comigo

https://www.letras.mus.br/hollow-coves/blessings/traducao.html

Voltando aqui como se eu não tivesse tido um verdadeiro blecaute mental no último ano. 

Eu ainda não sei como me sinto com tudo o que aconteceu na minha vida desde julho/21. 

Às vezes me acho corajosa, as vezes me sinto um verdadeiro fracasso. 

Num misto de vontade de recomeçar e viver intensamente, e no segundo seguinte, uma vontade absurda de me esconder de tudo e de todos e nunca mais conversar com ninguém. 

Mas sei que estou fazendo vários progressos - muito embora minha mente tenta me sabotar.

Consegui vencer a restrição alimentar, vencer as crises pseudo-suicidas, vencer a vontade de ficar inerte na vida para sempre. 

Consegui continuar trabalhando, mesmo tendo tido uma crise de burnout há 2 meses - mas estou vencendo isso também. Estou vencendo a ansiedade e depressão, através de medicação e terapia - inclusive tendo descoberto o TDAH há 2 meses (sim, na mesma época do burnout. Minha vida não tá fácil, gente). 

Consegui manter as contas em dia, consegui recuperar minha saúde depois de meses muitíssimo debilitada, consegui continuar a frequentar o terreiro, consegui manter contato com a minha família - mesmo me sentindo um peso na maior parte do tempo. 

Consegui abrir meu coração para pessoas que nunca imaginei. Consegui ser honesta e chorar o que eu precisava para meu sócio quando disse que não aguentava mais, mesmo com muito medo de perder meu trabalho. Mas aí descobri que estava fugindo de mim mesma me afundando no trabalho - por isso o burnout. 

Consegui admitir que estou com medo de me abrir para novos relacionamentos e quase perdi pessoas incríveis por puro medo de falar o que sinto. Talvez eu tenha magoado alguém em algum momento, mas juro, não foi por mal. Espero que compreendam algum dia. Se está confuso para mim, imagina para quem em algum momento pensou em dividir essa bagagem emocional pesadíssima que estou carregando.

Mas acho que consegui entender que a minha dor também importa e que, se eu me abrir para as pessoas certas, haverá compreensão e acolhimento. (esse trecho escrevi com lágrimas nos olhos porque nunca achei que me sentiria merecedora de ser acolhida, afinal, eu que acolhi as pessoas na maior parte da minha vida. e caso você não saiba, quem cuida geralmente acha estranho receber cuidados e tal.)

Consegui comemorar o primeiro aniversário da minha mãe depois do câncer dela. Ela venceu o câncer de mama, gente! Como pude deixar minha mente esquecer desse progresso, sabe? <3 

Nesse meio tempo eu silenciei, me recolhi e tô aprendendo a respeitar meu limite. Aprendi a dizer alguns nãos. Aprendi a falar como eu me sinto de verdade, sem muito medo do que os outros vão pensar. Aprendi a mergulhar mais profundo em mim e nas relações poucas e verdadeiras que sobram para aquelas pessoas quebradas que falam incessantemente sobre um único assunto na tentativa de se entender melhor (meu assunto, caso ainda não tenha ficado claro, é o luto. agradeço de coração a todas as pessoas que nesse período me ouviram falar e refletir sobre esse tema.) 

Para escrever esse texto estive ensaiando e refletindo nos últimos 480 dias. 

Sim, demorei 480 dias para mostrar para o mundo (além da minha bolha de 5 amigos íntimos) uma parte das numerosas dificuldades que tenho passado.

Ah, importante lembrar que esse não é um texto de superação por que ainda não superei porra nenhuma. 

Mas tô tentando seguir. Do jeito que dá, no ritmo que dá. 

Entre lágrimas e sorrisos, ainda é bom e importante para mim relembrar os motivos que me fazem querer estar aqui. 

Ainda não sei listá-los, mas quando conseguir, venho aqui escrever. Mas não prometo nada. Por que esse não é um texto de superação. 

Mas talvez seja um texto de esperança.

Todos os dias por você, Papá <3