O papo hoje é sobre ingratidão.
A ingratidão é uma planta que nasceu na beira do esgoto.
A plantinha ta lá, verdinha.
Só que você vai regando com água suja.
A plantinha se adapta, pois é de sua natureza.
Essa planta acaba gerando gerando frutos.
A ingratidão gera uma fruta que tem cores vivas, e você não vê nada de errado com ela.
Mas se você soubesse das condições de cultivo, você comeria essa fruta que foi gerada na beira do esgoto?
A pessoa ingrata não checa se o terreno é fértil ou não, só vai regando com a água que tem por perto.
A pessoa ingrata não julga se o cultivo está sendo feito da forma devida, ela só vai jogando mais e mais lixo ao redor.
A pessoa ingrata confia somente no fruto que vê, e ignora as condições de formação do fruto.
A pessoa ingrata alimenta esse ciclo vicioso sem perceber, e ao terminar de consumir o fruto, vai jogando a semente na beira do esgoto, fazendo gerar ainda mais ingratidão.
É bem complicado mudar a mente de uma pessoa ingrata.
Porque ela está tão focada no fruto, que não tem capacidade de analisar as condições de cultivo.
"Não importa que foi gerada no esgoto, o importante é que tenho uma fruta."
"Não importa que essa fruta me faça mal, o importante é que tenho uma fruta."
A pessoa ingrata não consegue ver que aquele terreno não é bom pra ela. Que tudo o que for gerado lá carregará os venenos daquele terreno doente.
A pessoa ingrata não consegue ver que seu próprio esforço alimenta aquele terreno doente, pois o único parâmetro é gerar algo - não importa o que seja. A pessoa ingrata foca somente no fruto que vai ser gerado, pois é ela que irá consumir.
A pessoa ingrata não consegue associar que cultivar essa planta num terreno mais saudável seria mais produtivo, para ela mesma e para a planta. A ingratidão está tão intrínseca que ela não vê o mal que causa a si mesma e para o outra parte - a planta - que está recebendo atenção e cuidado, mas com qualidade duvidosa.
A pessoa ingrata não possui habilidade para julgar a qualidade do fruto gerado. Fruto é fruto, diz ela. Ela experimenta a própria fruta, para provar para os outros e a si mesma que está certa. Só que a pessoa ingrata ignora todos os sintomas físicos da doença, consequências de consumir algo doente. Ela já está doente há tanto tempo que não sabe mais como é estar saudável.
A ingratidão começa a ser curada quando a pessoa ingrata se coloca no papel de observador da própria história. Quando se limpa de todo e qualquer resquício de arrogância e se coloca no papel de humildade e compaixão consigo mesmo.
É nessa hora que finalmente conseguimos ver que estamos cuidando de um terreno doente, e reconhecer o quão doentes estamos.
Percebemos que as condições de cultivo podem ser diferentes e mais saudáveis e que nós temos poder de mudar essas condições.
Conseguimos perceber quanto sofrimento geramos para nós e para os outros, nas mais diversas intensidades.
Que precisamos pedir muito perdão para nós e para os outros para quem oferecemos os frutos envenenados.
Que precisamos nos curar de todo o mal que o não-saber causou.
É quando saímos de um movimento de focar somente no fruto-resultado e começamos a focar no processo inteiro. A cura, portanto, reside em cuidar do cultivo inteiro, e não somente do fruto.
O processo de cura não é fingir que nada aconteceu ou que você não machucou ninguém. É assumir que você errou e de agora em diante, vai trabalhar para mudar.
O processo de cura não é carregar um fardo maior do que você precisa carregar. É olhar para tudo o que que você causou e entender isso.
É reconhecer que você errou e ainda vai errar muito, mas a partir de agora, vai vigiar para não cometer o mesmo erro de novo.
Lembre-se que não é porque aquele terreno gera fruto, que esse fruto é bom.
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