o luto é uma coisa engraçada. não no sentido literal da palavra, é claro. mas não existe padrão. e isso me incomoda muito.
poderia haver um manual do luto né. imagina como seria fácil: um teste tipo buzzfeed pra descobrir em qual estado do luto você se encontra e páginas seguintes explicariam o que você precisa fazer para passar de fase. (meu deus eu estou gamificando o luto, alguém me socorre)
o Omar, meu companheiro de vida e de memes, de sorrisos e carinhos, de cuidados e amor, a pessoa que possuía o maior coração da galáxia, partiu na última quinta feira, dia 29 de julho. seu coração era tão gigantescamente amoroso que parou enquanto ele tomava seu café da tarde. me disseram que foi tão rápido que ele não sentiu nada. eu realmente duvido, por que ele sentia tudo (ele era médium e tal)
ninguém nunca está preparado para uma perda tão repentina como a dele. 38 anos de vida e tudo aconteceu em casa, na nossa casa onde a gente tinha dado início ao nosso recomeço, há 10 meses. na casa dos nossos sonhos, na casa onde a gente buscou por tanto tempo e ficamos apenas poucos meses lá. mas os melhores meses das nossas vidas.
eu fiquei pensando qual a melhor forma de passar por isso e lembrei que meus melhores textos sempre saíram quando eu estava triste, meu cérebro funciona assim há sei lá, 15 anos sabe. todas as vezes que eu estive deprimida era quando a inspiração vinha forte e saíam as melhores obras primas. agora então com o luto, prepara o prêmio Jabuti.
resolvi escrever. agora há pouco, enquanto estava preparando um chá pra me esquentar nesse frio, me veio a ideia de (tentar) colocar em palavras o que eu tô sentindo. estou um pouco enferrujada, mas vou tentar.
no dia, quando tudo aconteceu, minha cabeça estava em resolver as coisas da forma mais prática possível. a morte em si não tem emoção, mas as lembranças sim. a morte é burocrática e complicada. graças aos deuses eu tive ajuda, por que senão eu não teria conseguido sair do lugar.
no dia seguinte foi o enterro. tinha muito choro e pesar. mas também tinha muita paz e amor, pois até quem não conhecia o Omar gostava dele. e isso se traduziu em mais de 50 pessoas presentes e mais de 500 pessoas online, de todas as partes do Brasil e do exterior enviando mensagens de carinho. não tem como não se fortalecer né. fiz questão de responder todos. acho que consegui responder todo mundo mas se você está lendo esse texto e ainda não foi respondido, não desista: enquanto a tendinite não gritar, consigo digitar sem problemas.
vim passar uns dias na casa dos meus pais até eu me restabelecer principalmente no quesito emocional. estou sendo bem acolhida e cuidada aqui (valeu pai, valeu mãe <3). mas sigo firme na saga de encontrar outro lugar pra morar. eu e a Paçoquinha precisamos recomeçar.
Paçoquira, minha furacã, segue fritando na creche com os outros dogs, gastando energia e comendo terra. achei que ela ia estranhar a ausência, mas ela já sabe tudo o que aconteceu. o luto dela, inclusive, começou quando ela dormiu calmamente no colo do meu irmão - e a Paçoca, meus amigos, odeia homens mais do que tudo. e dormiu no colo do meu irmão sabe. ela é a melhor cachorrinha do mundo. na moral.
eu tinha esquecido de como a rotina de mudança é estressante e muitas vezes frustrante. frustrante porque nem sempre aquilo que você ama pode ser seu. era inclusive um passatempo maneiríssimo que eu e Omar fazíamos: compartilhávamos links de casas e apartamentos milionários que jamais teríamos.
só hoje cliquei minimamente nuns 400 links e agendei 3 visitas. o Quinto Andar deve achar que sou um bot. ontem encontrei o apartamento dos meus sonhos, mas agora não estou preparada para comprar um imóvel.
minha mãe comentou sobre a possibilidade de eu vir morar aqui na casa dela. eu agradeço demais esse acolhimento, mas entendo que é temporário. eu quero que seja temporário. eu ainda sou visita e não sei se consigo (ou quero) não ser mais visita, entende?
é que há cinco anos venho criando meus hábitos e minha liberdade. eu preciso do meu canto tanto quanto eu preciso de oxigênio. eu preciso da minha ordem, da minha organização, da minha paz, do meu ambiente sem gatilhos de ansiedade. preciso do meu espaço pra jogar a bolinha pra Paçoquinha e deixar ela à vontade pra dormir em paz onde ela quiser e sem preocupação com as escadas. se eu tenho medo de tropeçar e cair do terceiro andar, cê ta maluco que vou deixar a paçoca solta. jamais. não posso perder mais ninguém da minha família nesse momento.
enfim amigos. não é um texto sentimental mas somente uma vontade de tentar externar o que tem passado na minha cabeça. escrever é uma forma emocionalmente linear que eu encontrei há alguns anos para liberar minha mente do caos que ela mesma cria.
escrever se tornou um refúgio, um recanto de paz. uma tentativa de resgatar umas migalhas de serotonina e manter minha mente razoavelmente funcional. por que preciso dessa cabeçona funcionando bem porque agora é eu e Paçoca, Paçoca e eu na saga de encontrar um lugar legal para a gente recomeçar. torçam por nós! <3
abraço grande
Pam
<3
ResponderExcluirEscreva. Jogue a bolinha. Siga.
Tamo aqui, Pam.
valeu demais pelo apoio, eu nunca, nunquinha vou parar de agradecer s2
ExcluirNão quero saber como é, mas imagino que travaria a criatividade em 100%
ResponderExcluirE você escrevendo muito ❤️
Funcionou, viu? É como se estivéssemos batendo papo. Chorei um pouquinho agora, mas me acalmei
Logo irão encontrar um lar incrível para recomeçarem juntinhas! 🧡 vou separar uns links de mansões para te mandar :) um beijo enorme
ResponderExcluirAi, Pam, eu não acredito que você me fez rir...
ResponderExcluirPenso muito em você e no Omar, ele era uma pessoa completamente boa, sem parte ruim ou duvidosa, um fenômeno! E a vida de vocês, a construção e as conquistas que compartilhavam, sempre foi um exemplo.
Eu sinto tanto...
Muita força, minha torcida é toda sua. As coisas vão dar certo. <3
Você consegue ser engraçada até num texto que podia ser triste. Espero que a tempestade acabe logo e que a paz reine. Em tudo. Na tua cabeça, no teu coração, no teu lar. ❤️
ResponderExcluirMuito lindo, acordei com o coração quentinho. Escreve mais pq faz muito bem para todo mundo ler sobre sentimentos reais.
ResponderExcluirLuto é um troço doido mesmo.
ResponderExcluirImagino o que vc tem sofrido mas vou te falar passei um pouco mais de quatro anos de luto onde tomava remédios pra dormir e pra ansiedade dormir bem não sabia como era mais mas em meados de maio eu acordei diferente com uma certa leveza e calma sabe.
Achei gostoso aquela sensação mas não tinha entendido nada mais aí me vendo algo na Internet ouvi a música que foi tocada na cremação do meu marido e não chorei achei estranho porque quando ouvia me desmanchava em lágrimas e saudade. Conversando com uma amiga ela me disse que o que eu estava passando era o término do luto.
Depois disso sinto muita saudade mas sem chorar e dormindo sem remédios que foi fabuloso isso.
Então minha querida pode doer muito tempo ainda mas sei que vai passar.
Bjs e fique com Deus.
Desculpe o texto.