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Burnout: Começo, Pausa e Recomeço - parte 2

Antes de seguir em frente, leia a parte 1!

Fui consegui perceber que estava doente apenas em Agosto/Setembro de 2022, 1 ano e 2 meses após o início do luto. 

Foi apenas nesse momento que consegui me olhar de verdade. Percebi o estado que meu carro mental tinha ficado depois de ter dirigido em alta velocidade na estrada esburacada do luto. Foi nesse momento que consegui parar o carro, descer e ver o estado lamentável que eu me encontrava. Foi nesse momento que consegui perceber o tanto de coisa que atropelei, passei por cima, deixei pra olhar depois - e essas coisas me compõem, sabe? Como eu pude me deixar chegar nesse estado? Fiquei triste, indignada, e com muita raiva de mim. 

E não pense que meu corpo não estava dando sinais pq ele tava dando todos os sinais possíveis - eu que estava incapaz de perceber!

Além das crises de ansiedade, que eu já convivo desde 2015, veio a depressão, as crises suicidas, a restrição alimentar, os pesadelos como sintomas de estresse pós traumático. Veio a anemia, a falta de ar, o coração acelerado ao sentar na frente do computador para uma simples reunião. Veio a dor de cabeça diária, veio a gastrite, veio a intolerância a lactose, veio o ato de tomar dorflex e omeprazol todos os dias como se fosse balinha tictac. Veio as crises alérgicas, a sinusite e, depois de 2 meses doente tomando antibiótico e todos os medicamentos existentes, finalmente veio a cartada final:

Uma crise de pânico no meio da madrugada onde eu realmente achei que ia morrer sozinha. 

Era meia noite e meia do dia 13 de setembro, uma terça. Eu tinha acabado de tomar minha medicação e deitar pra dormir de boa. Não deu 10 minutos e comecei a sentir meu corpo gelado e não sentia mais nem meus pés nem minhas mãos. Não estava frio nem chovendo, mas comecei a tremer muito, um frio interno descomunal que veio do nada. Meu coração acelerou muito mais que o normal. Eu não conseguia ficar de pé. Eu tava fraca com sensação de desmaio e eu jurava que meu coração ia parar de bater a qualquer momento. Eu tava com muito medo de morrer sozinha no meu apartamento e demorarem pra me achar, então a primeira coisa que eu fiz foi destrancar a porta do apartamento - "pelo menos os bombeiros e a polícia vão poder entrar de boa", pensei. Eu só conseguia pensar quem ia cuidar da Paçoca, e como as pessoas lidariam com a minha morte. Eu não conseguia gritar para os vizinhos, eu não conseguia gritar na janela. Eu não conseguia me mexer. 

O medo me paralisou mas por dentro eu estava gritando desesperada em silêncio. 

Tentando manter a maior calma racional do mundo, liguei pro meu pai - que não atendeu porque tava dormindo. Liguei pra minha mãe - que ainda tava debilitada por causa do tratamento do câncer pra pedir ajuda, e por sorte ela estava acordada e me atendeu. Ela acordou meu pai, que veio pra minha casa em 20 minutos e me levou pro hospital. Chegando lá tomei medicação, apaguei, meu pai me trouxe pra casa e não lembro de muita coisa, só que mandei mensagem pro meu médico e pra minha psicóloga, desmarquei os compromissos do dia e dormi o dia todo. 

Passei o restante da semana naquela leseira medicamentosa, sem capacidade de raciocinar direito, apenas existindo e tentando compreender o que aconteceu. 

Na segunda-feira seguinte, dia 19/09 tive terapia onde chorei muito. Em seguida, tive mais uma crise de ansiedade onde, num arroubo de fé, me ajoelhei na frente do meu altar e pedi força e direcionamento aos meus orixás e guias por que eu não aguentava mais. Eu tava com medo de perder tudo (ou perder mais). Medo de perder meu trampo, de falhar, de morrer, de decepcionar, de ser fraca, de fracassar. 

Mas o direcionamento veio e uma luz se acendeu. 

Em lágrimas, chamei meu sócio para conversar e desabei novamente ao dizer que eu não conseguia mais seguir. Eu precisava de um tempo. Eu precisava parar um tempo. Eu precisava de uma pausa.



Admitir que eu estava doente e que precisava me afastar para me curar foi um dos passos mais difíceis que já tomei na vida. 

Porque pela primeira vez em 31 anos eu estava dizendo NÃO para o externo e dizendo SIM para mim.

E eu, que sempre tive facilidade em aprender de tudo, percebi uma parada que mudou tudo. 

Percebi que eu nunca tinha aprendido a me colocar em primeiro lugar. 

(continua na parte 3)

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