Pular para o conteúdo principal

Burnout: Começo, Pausa e Recomeço - parte 3 (final)

Antes de seguir em frente, leia aqui a parte 1 e a parte 2

Minha licença médica começou em setembro/22, onde finalmente eu tinha um tempo para descansar. 

Mas quem disse que consegui desligar minha mente com facilidade?

Sempre tive muita dificuldade de desligar do trabalho, mas dessa vez parecia impossível.

Por que para a mente neurodivergente, a mudança de rotina é uma tortura e precisa ser feita com muita paciência. Meu diagnóstico de TDAH veio durante a licença, logo no final de setembro, e me ajudou a entender umas paradas, mas gente, sério: era tanta coisa pra lidar que eu tinha a sensação diária que eu ia explodir. (tá nos planos fazer um post para falar mais de TDAH, tá?)

Além da mudança em si, a sensação de fracasso sussurrava em meus ouvidos 24/7. Aquela vozinha maldita ficava me dizendo que eu era fraca, que eu devia estar produzindo, que eu "tinha que" um monte de coisa. Gastei boa parte da minha licença numa luta intensa com essa voz para fazer ela calar a boca de uma vez por todas. 

Durante esse período de licença fiquei feliz de ter conseguido fazer várias coisas legais para mim: voltei a ler, assistir filmes e séries até o fim, voltei a escrever. Fiz um intensivo para cuidar das minhas plantas para adubar, podar, regar e cuidar delas como elas merecem. Brinquei muito com a Paçoca, criamos nossa rotina para gastar energia. Tomei muito sol na laje, ouvi muita música, aprendi novas músicas no violão, comecei um curso de canto. Ganhei um PS4, voltei a jogar meus jogos com regularidade. Voltei a desenhar e trabalhar minha criatividade. Aprendi novas habilidades profissionais e pessoais. Estive com pessoas queridas quase todos os dias, onde também me conectei melhor comigo mesma e com minha fé.

Mas, sem dúvida, uma das maiores vitórias durante essa minha licença foi conseguir olhar para o luto como ele merecia. Chorei tudo o que não chorei durante todos os últimos 12 meses, vocês não tem ideia. Várias vezes ao dia por vários dias chorei de dor, medo, tristeza e raiva. Mas também chorei de saudade pelas boas memórias, de alegria pelo que foi vivido, de amor verdadeiro experienciado, de fé que esse turbilhão ia entrar no eixo um dia. E finalmente consegui voltar a sorrir com esperança. 

Entendi que olhar para essa dor desgraçada do luto dói em níveis que você nem imagina - mas a única forma de fazer essa dor passar é olhar para ela como ela é, e não como a gente gostaria que ela fosse. 

Entendi que dói muito aceitar que o que existia antes não existe mais - mas é possível começar a perceber o que ainda existe no aqui e agora, para reconhecer os presentes da vida que ainda estão presentes. 

Entendi que uma parte de mim morreu também em Julho de 2021 - mas que naquele momento surgia a oportunidade de um novo alguém renascer e recomeçar.

Entendi que apesar das mudanças que a vida me forçou a passar, eu realmente precisava desse tempo para parar, recalcular a rota, olhar para o que eu realmente quero e gosto, respirar fundo e recomeçar a caminhada.

Durante a licença também aproveitei para olhar de novo para o meu lado profissional com outros olhos e outro ritmo. Foi ótimo tirar esse tempo para descansar, mas comecei a sentir falta de produzir algo útil - por que produzir e ajudar pessoas me faz muito bem! 

Para sair de licença eu contratei uma outra pessoa para ficar no meu lugar. E ao voltar da licença, eu não iria mais fazer minha atividade antiga. 

Eu confesso que tava bem insegura com essa mudança de função no trabalho por que isso significava desapegar completamente da função antiga que construí do zero com tanto carinho. Toda mudança dói demais, né? Até que um dia na terapia veio o insight: desapegar do que foi me abre espaço para construir o que pode ser daqui pra frente! Aí mergulhei com tudo: consegui desenhar uma nova função, criei todos os direcionamentos e já temos um planejamento bem legal para 2023. Já fiz algumas entregas nas últimas semanas e tô muito feliz e genuinamente empolgada pra realizar tudo o que eu quero este ano!!! 

Dia 13/12 - 3 meses depois do início da licença - finalmente anunciamos meu retorno para a empresa e para o mercado! Deu um p*ta frio na barriga porque acho que eu ainda tava com medo do julgamento das pessoas, sei lá porque. Mas a real que todo mundo foi muito receptivo e recebi um monte de mensagens de apoio de amigos, professores, mentores, clientes, alunos e várias outras pessoas queridas! 

Essa montanha de carinho só me fortaleceu ainda mais. Gratidão de coração <3 

E mais uma vez não se enganem: eu não estou completamente curada, talvez nunca fique ou demore mais um tempo pra ficar - mas tudo bem. Eu não tô mais com pressa. Por que esse processo é contínuo e sempre haverá camadas e mais camadas para serem olhadas. 

Mas finalmente compreendi no coração o que um querido amigo me disse uma vez logo no início do luto: agora as coisas tem outro ritmo. 

E esse outro ritmo agora é o mais importante de todos até agora. Por que esse ritmo é o meu. 

(Fim da saga! Gratidão por ter lido até aqui! <3)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não deu tempo, mas...

Ontem fez uma semana e uma das frases que mais tem passado pela minha cabeça nos últimos dias  é "não deu tempo".  Não deu tempo pra gente fazer nossa segunda viagem internacional. Mas fiquei tão feliz de ter ido contigo na sua primeira saída do país. A gente sempre relembrava aquele dia que eu disse "vamo a pé que é perto" e no fim caminhamos mais de 10km pra chegar no evento e você jogava isso na minha cara toda vez hahahaha Não deu tempo da gente conhecer aquele hotel com temática do senhor dos anéis no Sul, nem Cunha,  nem o resort no nordeste que a gente tava planejando pro final do ano, mas fiquei feliz demais com todas as memórias que tivemos nas viagens que fizemos. Não deu tempo pra gente alcançar nossos resultados esperados na dieta (como você disse "pra andar sem camisa em lugares inapropriados") mas fiquei feliz demais de estar contigo em mais esse plano de qualidade de vida e a gente já tava há 3 semanas sem refluxo nem gastrite hahaha Não deu

Esse não é um texto de superação

Já começa a leitura dando play nesse som.  se quiser ver a tradução, lê aqui pra chorar comigo https://www.letras.mus.br/hollow-coves/blessings/traducao.html Voltando aqui como se eu não tivesse tido um verdadeiro blecaute mental no último ano.  Eu ainda não sei como me sinto com tudo o que aconteceu na minha vida desde julho/21.  Às vezes me acho corajosa, as vezes me sinto um verdadeiro fracasso.  Num misto de vontade de recomeçar e viver intensamente, e no segundo seguinte, uma vontade absurda de me esconder de tudo e de todos e nunca mais conversar com ninguém.  Mas sei que estou fazendo vários progressos - muito embora minha mente tenta me sabotar. Consegui vencer a restrição alimentar, vencer as crises pseudo-suicidas, vencer a vontade de ficar inerte na vida para sempre.  Consegui continuar trabalhando, mesmo tendo tido uma crise de burnout há 2 meses - mas estou vencendo isso também. Estou vencendo a ansiedade e depressão, através de medicação e terapia - inclusive tendo descob

Burnout: Começo, Pausa e Recomeço - parte 1

Semana passada voltei ao trabalho.  Depois de 3 meses de afastamento por burnout, finalmente anunciamos meu retorno numa nova função e gente, sério... fazia muito, mas MUITO tempo que eu não sentia um frio na barriga como senti dessa vez. E pensei em contar os bastidores aqui pra vocês. Vem comigo! Quem acompanhou as últimas postagens aqui no blog deve ter visto que o processo de luto f*deu a minha vida em vários aspectos, e um deles foi o profissional. Para dar um pouco de histórico e contexto pra você que está lendo: eu nunca medi esforços para crescer profissionalmente. Trabalho desde os 16 anos porque conquistar minha independência sempre foi prioridade. E pra isso, sempre foquei em aprender tudo que fosse possível, me aperfeiçoei, me especializei, me formei em vários cursos, fui aumentando minha rede de contatos e fui construindo meu império.  E quando digo império, por favor não me entendam mal pq tô beeeeem longe do Elon Musk. Me refiro mais à sólida construção intelectual, à se